Olá, Esse é o blog da nossa turma, um lugar para compartilhar nossas idéias e descobertas em Educação, Comunicação e Tecnologia. Um lugar em que podemos estar juntos virtualmente, aproveitando as oportunidades que o ciberespaço nos oferece para co-participarmos das aprendizagens uns dos outros, do proceso de co-criação e da construção coletiva do conhecimento.

segunda-feira, maio 22, 2006

Cinema e Educação


Edição Agosto de 1998

No escurinho do cinema
Aquele filme que acabou de estrear em circuito nacional ou um clássico que você encontra na locadora podem ensinar muito a seus alunos

Denise Pellegrini

Alexandre Marchetti
Divulgação
Os alunos da 8ª série da Escola Fidelino Figueiredo, de São Paulo, lotaram a sala de cinema. Junto com professores de Português e História, a turma foi assistir ao filme Policarpo Quaresma - Herói do Brasil. A adaptação de uma obra literária e o Brasil do final do século XIX foram os temas estudados
uspense, ficção, drama, romance, adaptação literária, filme histórico, desenho animado... o gênero não importa. O cinema encanta platéias desde 1895, quando os irmãos Lumière, inventores do cinematógrafo, promoveram a primeira projeção pública de seus filmes. Passado mais de um século, a sala escura não perdeu seu encanto, mas o cinema chega a um público bem maior por meio dos videocassetes, cada vez mais comuns nas escolas. Aproveite os recursos disponíveis e apresente a Sétima Arte aos alunos.

Fitas sem um compromisso educacional explícito, mas que divertiram você em casa ou no cinema, podem ser dissecadas e se transformar em mais uma ferramenta de trabalho. Importante é escolher bem. Na opinião de Elias Thomé Saliba, professor da Universidade de São Paulo, é difícil definir em princípio quando um filme se presta ou não a uma utilização didática. Colaborador da coletânea Lições com Cinema, publicada pela Fundação para o Desenvolvimento da Educação, da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo, ele não abre mão, porém, de um critério de escolha: "Os melhores filmes são aqueles capazes de nos provocar uma reação emocional, fugindo à banalização."

Mas lembre-se: inclua os filmes em seu planejamento com critério. "A exibição de uma fita deve ser precedida de boa preparação, segundo os objetivos de sua aula", explica Marialva Monteiro, responsável pelo Cineduc, do Rio de Janeiro. Nessa reportagem, mostramos experiências desenvolvidas em sete escolas a partir de filmes nacionais e estrangeiros de gêneros variados. Prepare a pipoca e aproveite a sessão.

OLHAR CINEMATOGRÁFICO

Ensine a seus alunos que o cinema é uma arte e que tem linguagem própria. Para isso, não é necessário dar aulas teóricas sobre movimentos de câmera, por exemplo. Destaque para os alunos os artifícios usados pelo diretor para passar aos espectadores seus sentimentos e idéias.

Para introduzir os alunos no tema, a professora Marialva Monteiro, responsável pelo Cineduc, uma ONG que assessora o projeto A Escola vai ao Cinema, lançado pela prefeitura do Rio de Janeiro há 3 anos, propõe um exercício bem simples. "Peça aos alunos que façam um corte de aproximadamente 3x2 cm no centro de uma folha de sulfite". Esse será o visor de uma câmera imaginária que educará o olhar dos alunos. Eles devem "fotografar" um objeto ou uma paisagem vistos através dessa "câmera". Primeiro, de longe. Depois, se aproximam e focalizam apenas um detalhe do mesmo objeto ou cena.

Que lição se tira daí? "Com uma câmera, podemos mostrar detalhes, aprofundar um tema, limitar uma paisagem ou tirar um objeto de seu contexto", diz Marialva. "Após esse exercício, o aluno vai entender como funciona o ‘olho cinematográfico’ e aproveitará muito melhor as seções de cinema ou vídeo que você promover."

UM ROTEIRO PARA SEGUIR EM CLASSE
1. Quando usar um filme
Não há regras gerais. Utilizar o filme apenas como ilustração de um tema que está sendo estudado é a forma mais pobre, mas ainda assim é um começo, na opinião de Elias Thomé Saliba. Já a partir das séries iniciais o professor deve desenvolver no aluno a capacidade de entender a linguagem das imagens em movimento. "Um filme pode ser usado como ilustração, confirmação, variante ou até negação do que foi trabalhado por escrito ou verbalmente nas aulas", diz Elias.

Gamma
A Missão
2. Como escolher a fita
Segundo Elias, cabe ao professor subordinar a escolha do filme ao que pretende ensinar. "A opção deve ser adequada também à faixa etária dos alunos", diz. Utilizar sempre filmes de qualidade é o primeiro cuidado, de acordo com Marialva Monteiro. "Para descobrir as melhores fitas e as mais adequadas aos conteúdos presentes em seu planejamento, assista aos lançamentos nos cinemas e em vídeo. Se não puder, leia críticas publicadas em revistas e jornais", ela recomenda.

3. A preparação da turma
Para Marialva, esmiuçar o enredo do filme antes da projeção pode causar desinteresse nos alunos. Diga apenas a que filme vão assistir e peça que prestem atenção em determinados pontos. "Os alunos terão visões diversas de uma mesma obra de arte, cada um de acordo com sua experiência de vida."
Elias completa: "Evite mostrar à classe resenhas críticas antes da exibição. Elas podem empobrecer a análise e o processo de recepção do filme pelos alunos." O filme, como qualquer material visual, faz parte de um contexto de aprendizagem. "Por isso, quando ele se transforma em parte de suas aulas, todo um trabalho prévio que justifique seu uso já deve ter sido feito", ele defende.

4. Ficção ou documentário?
Para Marialva, o professor deve preferir os filmes de ficção. "O documentário pode ilustrar um assunto que está sendo estudado em classe, mas nem sempre desperta a emoção sobre a questão de que trata", avalia. Para Elias, da mesma forma que o romance, o filme de ficção possui uma vocação narrativa e o público, especialmente as crianças, tem sempre a curiosidade de saber "como acaba". Use esse atrativo em benefício do aprendizado. Mas os bons documentários não devem ser descartados. "Às vezes, eles são mais diretos, práticos e curtos."

5. A linguagem da tela
O mais importante, para Elias, é mostrar aos alunos que as imagens vistas na tela foram colocadas ali por alguém.
Mas tudo o que diz respeito à linguagem cinematográfica, como roteiro, movimentos de câmera e enquadramentos, é importante. Marialva acrescenta que esses termos devem ser explicados para a classe depois de assistido o filme. "Assim, os alunos compreendem como a técnica serve para o diretor transmitir sua emoção e o porquê de um close num objeto, por exemplo."

6. Combine cinema e vídeo
A projeção de um filme em uma sala de cinema não tem comparação com o vídeo. Mas não despreze esse equipamento.
De acordo com Marialva, filmes de toda natureza são encontrados nas locadoras e podem até estar disponíveis em casa.
"O vídeo, ao contrário do cinema, permite que cenas sejam vistas e revistas, abrindo a possibilidade para novas interpretações", ela afirma. O ideal seria ver o filme no cinema e revê-lo todo ou em partes no vídeo para uma melhor análise.

7. Saiba dosar filmes e livros
Planejar o ano letivo com muitos filmes pode ser sedutor mas pouco adequado, afirma Elias. "As crianças já vivem uma sobrecarga de imagens." Segundo ele, as imagens não substituem a palavra escrita. Elas podem interessar, seduzir, comover e apaixonar mas não podem informar. "O que nos informa são as palavras", afirma o professor. Por isso, dose bem os filmes com a leitura de livros.